O Gigante Academia e o Castelo do Pensamento

Nos dias atuais temos tantos rituais em nossas vidas que mal nos damos conta deles. Temos a visão de que ser Acadêmico é falar difícil e muitos se valem das miríades de particularidades e formalidades acadêmicas para desvalidar o pensamento alheio. A Academia assim parece um gigante que esmaga aqueles que são pequenos. Pensando assim, não é difícil construir uma parábola:


No mundo a nossa volta a maior parte das pessoas vive sem dar muita atenção a questões que não sejam práticas. São como reis e vassalos de um mundo medieval onde tudo fora dos muros da cidade é perigoso. Ilhados em suas comunidades onde todos pensam de forma similar. O certo e o errado, as questões morais, tudo já está posto, os preconceitos são justificados e o questionamento não tem muito espaço. 

Aqueles que não se contentam em ficar dentro dos muros lançam-se a desafiar o mundo, a conhecer o desconhecido. Comumente essas “mentes avoadas” são desencorajadas pelos outros habitantes da cidade. “Você vai se perder”, “lá fora é perigoso”. (Minha própria mãe sempre desaprovou a curiosidade que eu tinha por outras culturas, outras religiões. Ela dizia que “saber de muita coisa confunde” e isso era perigoso).

Perambulando no mundo fora das paredes seguras do pensamento cômodo, esses aventureiros de fato se deparam com experiências das quais eles nunca teriam acesso se não tivessem abandonado seus muros. Algumas são dolorosas, outras inspiradoras e cada um lida com elas a sua forma.

Para aqueles que buscam respostas, chega aos ouvidos que existe um castelo nas nuvens, onde, no final de um labirinto, descansa o tesouro mais valioso que pode existir: A sabedoria.

O brilho do castelo desperta o fascínio em uns, a vaidade em outros, a curiosidade, no fim, os motivos que levam esses aventureiros a escalarem o pé de feijão são tantos e tão particulares que não é de fato interessante citá-los no momento.

Então, chegando diante do castelo, esses aventureiros se esgueiram pelo jardim e atravessam a porta. O castelo é colossal, ele irrita os olhos e atordoa as pequenas mentes dos viajantes. Então o piso estremece e os corajosos aventureiros se vêem diante de um gigante construto. Esse gigante voraz chamado Academia foi construído por todos os grandes pensadores do passado, sua função era dar um suporte e elevar os aventureiros acima do labirinto, para que com uma visão mais apurada, eles pudessem traçar um caminho mais seguro até os tesouros da Verdade.

O gigante assusta e amedronta, esmagando aqueles que não são hábeis em suas ideias. Afinal, no castelo do pensamento, nossas ideias são tudo o que temos. São elas as nossas armas e armaduras.

Alguns aventureiros acabam desencorajados – por vezes até mesmo desdenhando dos mistérios que aquele castelo gigante tem a oferecer - abandonam o curso, digo, desistem de seguir em frente e voltam para o seguro jardim. Aqueles que ficam podem escolher correr pelo castelo e evitar o gigante ou tentar escalar o gigante.

Esquivar-se do gigante parece mais fácil, menos assustador e exaustivo. Contudo, o risco é maior. Já que estando o aventureiro cego de seu horizonte é difícil para ele perceber as armadilhas no caminho entre o homem e a Verdade. As armadilhas são as ilusões e "achismos", os pensamentos mal formados que destroem nossa ideia e podem inclusive corromper e distorcer algum conhecimento correto que temos.

Escalar o gigante é entender como a Academia funciona. A subida é árdua e intimidadora (bastante intimidadora), as quedas são dolorosas, e quando se cai, muitas vezes se precisa recomeçar bem de baixo – dessa vez mais equipado e/ou atento. É preciso reconhecer as escadas e se apoiar nas cordas que mais lhe parecem firmes. Essas cordas e escadas são os espólios dos aventureiros (pensadores) de outrora, algumas levam apenas até parte do caminho, de onde outra escada se constrói. O gigante testa e treina o herói, exercita seu raciocínio e fortalece suas ideias tornando a armadura do viajante mais resistente e sua arma mais afiada.

O problema surge quando se transforma o gigante em um deus a ser cultuado, quando o objetivo vira escalar o gigante pra gritar quem chegou mais alto, quem tem a razão, quem tem a armadura mais brilhante; quando se perde o foco que o gigante é apenas uma etapa do caminho e que ele não é, inclusive, o único caminho. Já que dele, é possível notar outros que chegaram longe no labirinto sem nunca sequer terem tropeçado na Academia. O problema surge quando o aventureiro, deixa de se aventurar e se satisfaz com sua armadura, quando se constroem cidades no gigante, com paredes tão duras como as cidades de pedra fora do castelo.

Nama sociedade como a que temos, em que o fim e os meios são quase indistintos, muitos julgam ter superado o labirinto e alcançado à verdade, julgam-se donos dela como reis soberanos, considerando todos os outros que se dizem detentores de conhecimento como "charlatões", atacam e destroem todos aqueles que discordam de suas ideias.

Resta a todo aventureiro que tenta trilhar esse caminho ser cauteloso, os perigos são muitos e os enganos maiores ainda. O trabalho não é fácil e a recompensa, o tão sonhado tesouro da verdade, não é garantido, sequer temos certeza de que podemos de fato chegar à ele. Mas, como opróprio nome sugere, é a aventura quem constrói o aventureiro e o fim da história... bem, isso é você quem tem que contar...


(Camilla Keilhany)

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